O número de pessoas que trabalham longas jornadas em todo o mundo aumentou com o tempo, atingindo cerca de 479 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, ou 9% da população mundial
Jornadas de trabalho extensas levaram a 745 mil mortes por doença isquêmica do coração e derrame em 2016, um aumento de 29% desde 2000, de acordo com análise publicada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Divulgado em maio de 2021, o estudo abrange os níveis global, regional e nacional, com base em dados de mais de 2,3 mil pesquisas coletadas em 154 países - entre eles o Brasil -, de 1970 a 2018 – saiba mais aqui.
Nessa análise global, a OIT e a OMS estimaram que, em 2016, 398 mil pessoas morreram de acidente vascular cerebral e 347 mil de doenças cardíacas, causas atribuíveis a terem trabalhado 55 ou mais horas por semana.
A revisão encontrou evidências suficientes de que trabalhar pelo menos 55 horas por semana está associado a um maior risco de doença cardíaca isquêmica e acidente vascular cerebral, em comparação com trabalhar entre 35 e 40 horas por semana. De 2000 a 2016, o número de mortes por doenças cardíacas por causa de jornadas longas aumentou 42%, e as por acidente vascular cerebral 19%.
Também preocupa que o número de pessoas que trabalham longas horas em todo o mundo tenha crescido, atingindo cerca de 479 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, ou 9 % da população mundial. O que coloca mais pessoas em risco de incapacidades relacionadas ao trabalho e à morte prematura.
A disseminação do trabalho remoto em razão da pandemia de Covid-19, as novas tecnologias de informação e comunicação e o aumento dos empregos flexíveis e precários, temporários ou autônomos, têm aumentado a tendência para trabalhar longas horas. Fatores que também levaram a uma indefinição dos limites entre o tempo de trabalho e os períodos de descanso.
Para enfrentar o problema, a análise dos organismos internacionais aponta que governos, empregadores e trabalhadores devem implementar uma série de medidas. Entre as medidas governamentais, a adoção de políticas públicas efetivas de fiscalização das condições laborais, para que normas nacionais e internacionais sobre tempo de trabalho sejam observadas.
O SINAIT entende que, diante da questão, o Brasil deve ampliar suas políticas de prevenção a acidentes, doenças e mortes ocupacionais. “Para garantir o cumprimento das normas que estabelecem limites à duração do trabalho e parâmetros de proteção à saúde e segurança no trabalho, são primordiais investimentos na Fiscalização do Trabalho, o que inclui a realização de concurso público para prover os mais de 60% dos cargos vagos da carreira Auditoria-Fiscal do Trabalho”, afirma o presidente do Sindicato, Bob Machado.
Japão
Sede das Olimpíadas 2020, o Japão tem estado sob foco. Neste domingo, 8 de agosto, o jornal Folha de S. Paulo abordou o problema dos suicídios causados por excesso de trabalho no país asiático, eventos chamados de “karoshi”, palavra que significa “morrer de tanto trabalhar”.
A reportagem cita ainda que, em 2020, 148 pessoas morreram naquele país em decorrência de acidentes de trabalho decorrentes de doenças neurológicas, cardíacas e mentais, segundo o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar japonês. Apesar de ser um problema persistente, o número é o menor registrado da série referente à última década – nesse período, foram contabilizados 1.869 casos no total.
Os “karoshi” têm estado sob escrutínio público. O debate teve uma nova atenção em 2016, depois do suicídio de uma funcionária da Dentsu, maior agência de publicidade do Japão, que costumava fazer mais de 100 horas extras mensais.
De forma geral, por outro lado, o Japão é, entre os países do G20, o que registra a menor taxa de mortes decorrentes de causas ocupacionais.