Denúncia: condições laborais adoecem trabalhadores das fábricas de Adidas, Nike e Puma no Brasil


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
12/12/2022



As multimilionárias submetem os empregados a rotinas exaustivas e pagam salários diferentes em unidades do Nordeste e do Sul do país


Por Cristina Fausta, com informações do site Brasil de Fato
Edição: Lourdes Marinho


Enquanto o maior evento de futebol do mundo faz crescer o faturamento das empresas de material esportivo, no Brasil, trabalhadores das fábricas licenciadas da Adidas, Nike e Puma são submetidos a uma rotina de dores e lesões causadas pelo esforço repetitivo ao longo de jornadas de até 10 horas diárias. A situação veio à tona com reportagem do site Brasil de Fato, que denunciou ainda que o trabalho excessivo é combinado com outras questões indignas, que vão desde salários achatados até a restrição de idas ao banheiro – mesmo para mulheres gestantes.


A reportagem ouviu 12 sindicatos de trabalhadores de três regiões brasileiras que produzem para as marcas da Copa do Mundo no Sul, Sudeste e Nordeste do país. Os relatos mostram uma “rotina de desorganização, falta de unidade e impotência diante de uma indústria que impõe condições hostis de trabalho em busca de índices cada vez mais altos de produtividade”.


Dores e banheiro controlado


As jornadas de trabalho dos trabalhadores e trabalhadoras que fabricam para as incluem muitas horas na mesma posição, inclusive em pé. O esforço repetitivo ao longo das jornadas, que podem chegar até dez horas, cobra um preço alto, especialmente nas costas, de acordo com as reclamações mais comuns coletadas pela reportagem da Repórter Brasil. Os casos de complicações de saúde no que tange às Lesões por Esforço Repetitivo e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho são comuns.


Para manter os níveis de produtividade, os intervalos para descanso e para uso do banheiro são controlados pelos encarregados dos pátios das fábricas. Há um número estabelecido de vezes para o uso do banheiro durante o expediente. A norma afeta ainda mais as mulheres, por variadas razões, que variam desde os casos de gestação ou o próprio período menstrual.


Salários


Se não bastasse a jornada extenuante e as condições de trabalho inadequadas a que estão submetidos os funcionários destas empresas, há ainda, a desigualdade salarial. Segundo levantamento da Repórter Brasil, a média salarial na linha de produção das fábricas brasileiras das três marcas esportivas principais da Copa do Mundo é de R$ 1,4 mil, mas há diferenças significativas entre os polos produtores do Sul, Sudeste e Nordeste.


Auditoria-Fiscal do Trabalho


Ao comentar as denúncias à Repórter Brasil, o Auditor-Fiscal do Trabalho e chefe da equipe de Combate ao Trabalho Escravo no setor da Moda no Estado de São Paulo, Luís Alexandre de Faria, afirmou que o cenário atual é uma resposta a intensificação da fiscalização ocorrida entre 2010 e 2018. Na ocasião, grandes operações marcaram o segmento e levaram sindicatos, sobretudo em São Paulo, a cobrarem do poder público a responsabilização das grandes marcas, que terceirizam sua produção para marcas menores e quarteirizam para pequenas oficinas, muitas delas irregulares.


Segundo ele, esse movimento forçou as marcas a tomarem medidas para melhorar a cadeia produtiva, mas também fez com que muitas fábricas migrassem das capitais para cidades do interior, dificultando o monitoramento por parte da Inspeção do Trabalho. A fiscalização tem sido ainda mais dificultada pela falta de concurso público para reposição do quadro de Auditores. “O quadro dificulta não só o atendimento às denúncias, mas a própria análise da cadeia produtiva com ferramentas de inteligência que nos permitiriam flagrantes independentemente das denúncias”, destacou o Auditor-Fiscal do Trabalho.


A necessidade de recomposição da estrutura da Inspeção do Trabalho e do quadro de Auditores-Fiscais do Trabalho tem sido pauta frequente do SINAIT. Nos últimos dias tem sido reivindicação constante junto à equipe de transição do governo eleito. Dirigentes do Sindicato Nacional também levaram uma proposta de estrutura para o órgão central de Inspeção do Trabalho que, alinhada a diretrizes da Organização Internacional do Trabalho, procura fazer frente às questões atuais do mundo do trabalho, tendo como prioridade assegurar direitos fundamentais do trabalhador.


Veja a reportagem completa sobre o adoecimento de trabalhadores no site do Brasil de Fato.

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