RS: Auditores-Fiscais do Trabalho apuram suspeita de trabalho escravo em caso de idosa desaparecida por 44 anos


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
10/02/2023



Por Lourdes Marinho, com informações da GRT de Caxias do Sul.


Auditores-Fiscais da Gerência Regional do Trabalho de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, investigam se uma idosa de 73 anos foi mantida em situação análoga à escravidão em um hotel na cidade de Garibaldi. Na quarta-feira, 8 de fevereiro, Auditores-Fiscais do Trabalho ouviram a vítima, que está com familiares em Cachoeirinha, a 117 km de Garibaldi.


A mulher estava desaparecida havia 44 anos, desde 1979, e foi encontrada em um quarto sem janelas e sem banheiro próximo, no subsolo da hospedaria. Empregados disseram à polícia que a idosa trabalhou no local entre os anos 1990 e 2000 e desde então morava lá.


Na segunda-feira, 6 de fevereiro, a fiscalização esteve em Garibaldi, quando realizou uma inspeção no hotel. Ao chegar no local, os Auditores-Fiscais do Trabalho encontraram um ambiente diferente das fotografias divulgadas pela polícia civil, no dia da denúncia.


Muitos dos problemas relatados pelos policiais estavam corrigidos. Os armários que estavam caídos foram consertados, uma pia foi instalada no banheiro que era utilizado pela senhora e a luz foi restabelecida no cômodo. Além disso, o ambiente passou por uma limpeza e organização.


Para os Auditores-Fiscais do Trabalho, os ajustes realizados pelos donos do hotel provam que as adequações para dar uma melhor qualidade de vida para a senhora eram fáceis de serem realizadas.


O Auditor-Fiscal do Trabalho e gerente do Ministério do Trabalho de Caxias do Sul Vanius Corte deixou uma notificação para o estabelecimento, cobrando os documentos que mostrem a regularidade trabalhista dos empregados do local. O prazo para entrega é até esta sexta-feira (10).


O advogado do hotel afirma que não houve nenhuma mudança no local onde a mulher habitava. Segundo o representante foram realizadas apenas limpeza do ambiente, uma vez que a idosa não permitia a entrada de ninguém no local onde morava. O advogado ainda afirmou que o empreendimento enviará ao Ministério do Trabalho toda a documentação solicitada e os fatos serão esclarecidos.


O caso


Apesar de não ser vista pela família desde 1979, o desaparecimento da mulher só foi registrado em 2021, após uma sobrinha ficar sabendo de uma campanha de identificação de desaparecidos.


A Polícia Civil chegou ao local após denúncias e descobriu as condições precárias que levaram à abertura da investigação. Os Auditores-Fiscais do Trabalho estão apurando se houve maus-tratos e se o caso configura trabalho análogo à escravidão.


Segundo o advogado do hotel, Flavio Green Koff, “não tinha o que fazer” com ela. “Ela se tornou parte integrante da família, e o tempo foi passando, foi passando e não tinha o que fazer com essa senhora. Vamos jogar na rua? O que fazer? Não tinha uma solução.”


Ele alega que a mulher “tinha uma vida normal” e “andava onde queria”. “Ela tinha o seu quarto, não era cinco estrelas, evidentemente, não tinha banheiro no quarto, não era uma suíte, mas o banheiro dela ficava a 20 passos mais ou menos do quarto dela, em área coberta, não tinha problema nenhum”, afirmou.


Segundo a polícia, o quarto não tinha iluminação natural e o banheiro não era próximo, ao contrário do que diz o advogado. “As condições de higiene no local eram precárias, roupas de cama e colchão muito sujos. Ela fazia as necessidades em um balde”, contou o delegado Marcelo Ferrugem.

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