Razões para defender a legislação trabalhista


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
24/09/2009




No artigo abaixo, ao descrever como estão degradadas as relações de trabalho que se dão apenas sob a ótica do capitalismo, o autor Augusto César Petta reforça a necessidade de entidades como o SINAIT e centenas de outros sindicatos pelo Brasil afora trabalharem pela rejeição de proposições que tramitam no Congresso Nacional visando retirar e extinguir direitos sociais e trabalhistas.


As ações de violência no trato com os empregados têm, no mínimo, duas vertentes distintas. Uma, explícita, como nos casos de trabalho escravo e infantil flagrados pela Fiscalização do Trabalho. Outras vezes estão revestidas de sutilezas que em nada amenizam as dificuldades que serão enfrentadas em tratamentos médicos decorrentes de assédio moral ou para conseguir outro emprego.


 


Leia o artigo:


 


21-9-2009 – DIAP


Artigo - Precárias e injustas relações de trabalho


"Você, colaborador, está disponibilizado para o mercado!"


Augusto César Petta - Professor, sociólogo, coordenador técnico do Centro de Estudos Sindicais (CES), ex- presidente do Sinpro-Campinas e região e da Contee


 


Durante o tempo em que exercia presidência do Sindicato dos Professores de Campinas e Região, atendi vários professores e professoras que trabalharam muitos anos em escolas privadas e que, ao serem demitidos, demonstravam - inclusive com lágrimas nos olhos - a sua indignação e decepção.



Muitos deles receberam a carta de aviso-prévio, nas suas respectivas residências, sem ao menos terem tido a oportunidade de tomar conhecimento sobre as causas da demissão.


 


Doaram longo período da sua vida, formando as novas gerações e acreditando que teriam uma recompensa maior, por parte das mantenedoras das escolas, pela dedicação ao trabalho.


 


Talvez tenha faltado a muitos deles uma maior compreensão a respeito do funcionamento frio e insensível do sistema capitalista. Não é a felicidade das pessoas que norteia o capitalismo, mas pelo contrário, o que interessa aos empresários é o lucro a ser obtido sobre o investimento realizado, com base na exploração dos trabalhadores e trabalhadoras.


 


O que ocorria nas escolas era um reflexo do que acontecia nas indústrias, no comércio, na agricultura, em vários locais de trabalho.


 


As condições de trabalho eram inadequadas e os salários baixos. O tratamento por parte dos patrões era de repressão a qualquer tentativa de manifestação de protesto contra as injustiças praticadas.



Muitas greves ocorreram nos anos 80, mesmo com a repressão imposta pelas direções das empresas.


Sobretudo a partir dos anos 90, com a implantação do neoliberalismo, da reestruturação produtiva e das novas técnicas gerenciais, o desemprego aumentou.



Preocupados com a ascensão das lutas políticas e sindicais dos anos 80 e buscando aumentar a taxa de lucro, os empresários, ao mesmo tempo em que, desempregavam milhares de trabalhadores e trabalhadoras e aumentavam a taxa de exploração da mais valia, alteravam a forma de relacionamento com os trabalhadores e trabalhadoras.


O toyotismo vai, aos poucos, se implantando, com novas técnicas de gerenciamento.


 


O patrão passa a ser chamado de empregador e o trabalhador de parceiro e colaborador. Procura-se camuflar a luta de classes. Empregadores e colaboradores seriam parceiros para que a empresa pudesse crescer.


E, no discurso patronal, na medida em que a empresa crescesse, tanto os empregadores quanto os colaboradores seriam beneficiados.


 


O administrador de empresas Almir Tabajara, num artigo intitulado "Retendo os talentos da empresa" explicita as características que devem ter os trabalhadores atuais, na perspectiva dos patrões:
"A complexidade dos negócios de hoje e as formas de competição exigem que os nossos colaboradores estejam envolvidos no negócio, usando plenamente toda a bagagem de conhecimentos agregados em toda a sua vida, postos à disposição da nossa empresa.


 


Não precisamos deles apenas com o mínimo requerido pelo cargo que executam (apenas a presença física, pontualidade e frequência), precisamos deles em situações inteiramente novas todos os dias com a destreza, habilidades, talentos e, principalmente envolvidos integralmente no negócio de nossa empresa. A questão fundamental agora passa a ser outra, muito mais complexa. Como atrair e reter o trabalhador do conhecimento para dentro de nossa empresa, fazer dele um parceiro e aproveitar melhor desse colaborador para alavancar a empresa?"


É dessa forma que os patrões mais atualizados se comportam. Atingem fortemente a subjetividade do trabalhador e da trabalhadora.


 


Trata-se de uma verdadeira captura da subjetividade. Já se fala que não basta que o trabalhador e a trabalhadora vistam a camisa da empresa, mas sim que eles carreguem a empresa na sua alma. Camisa é externa ao corpo e pode ser retirada, ao passo que a alma tem um significado espiritual mais profundo e intrínseco ao ser humano.


 


Esse colaborador tão requisitado a quem, no discurso patronal, tanto se enaltece como um grande parceiro, recebe, muitas vezes, um salário baixo e têm uma jornada extenuante, realizando inúmeras tarefas, utilizando celular e computador fora do horário normal de trabalho.



E, a exemplo do que ocorria com os trabalhadores e trabalhadoras das décadas passadas, são demitidos, passando por enormes dificuldades para sobreviver.


 


Mas, só que agora, o processo de demissão é mais sofisticado. Um representante da empresa chama o infeliz que será demitido e diz mais ou menos o seguinte: "Gostaríamos de agradecer o eficiente trabalho que desenvolveu na nossa empresa. Atualmente não necessitamos mais da sua colaboração. Você foi um grande parceiro. Nesse momento, você será disponibilizado para o mercado. O mercado irá contar com a sua colaboração em outra empresa e, com a capacidade que adquiriu na nossa empresa, será bem sucedido!"


 


Triste realidade que nos impõe esse sistema injusto. Necessário se faz organizar e mobilizar os trabalhadores e trabalhadoras para mantermos acesa a luta pela conquista de uma sociedade justa e democrática!


 

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