Intensificação do Trabalho prejudica a saúde do trabalhador


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
01/10/2009



Francisco Luis Lima falou sobre os efeitos da intensificação do trabalho. Foto: João Peres


 


Condições inadequadas e excesso de trabalho são alguns dos fatores que causam danos à saúde do trabalhador, obrigado cada vez mais a conviver com situações de desrespeito.


Os danos à saúde do trabalhador provocados pelo excesso de trabalho foram tema de discussão na tarde de quarta-feira, terceiro dia de trabalhos técnicos do 27º ENAFIT. Francisco Luiz Lima, AFT do Piauí e presidente da Confederação Iberoamericana de Inspeção do Trabalho, falou aos enafitianos das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores e também pelos AFTs que têm que conviver com os horrores do processo de intensificação do trabalho.


O palestrante falou sobre o desrespeito com que são tratados os trabalhadores que adoecem em conseqüência do trabalho estressante e disse que a probabilidade de desenvolver transtornos mentais é inversalmente proporcional ao grau de satisfação no trabalho. “Acho que o tema é de grande valia para as nossas discussões. O mundo em que vivemos é de agressão física e psicológica para o trabalhador. Posso assegurar que o dano é grande. O ambiente de trabalho que deveria ser de conforto e prazer está se tornando cada vez mais danoso”, lamentou Francisco Luiz.


Os trabalhadores brasileiros enfrentam problemas em várias áreas da economia no Brasil, entre elas a agricultura, principalmente o setor de aplicação de agrotóxicos, onde não se usa equipamentos de segurança que minimizem os riscos. “Na Itália os trabalhadores do setor devem ter no mínimo o ensino médio, enquanto no Brasil quanto mais analfabeto melhor para os empregadores, pois assim não tomam conhecimento dos riscos que estão correndo”, afirmou o palestrante. Pesquisa da Fundacentro (MG) mostra que o trabalhador desprotegido tem 72% mais de chance de se intoxicar, se comparado com aquele que usa os equipamentos de segurança.


A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que as intoxicações agudas por agrotóxicos sejam da ordem de 3 milhões anuais, sendo 2,1 milhões de casos só nos países em desenvolvimento. Das 20 mil mortes que ocorrem no setor, 14 mil são nas nações de terceiro mundo. O Brasil é o segundo mercado consumidor de agrotóxico, com um volume de 370 mil toneladas/ano.


Outro dado alarmante diz respeito aos motoristas de caminhão. Segundo Francisco Luiz os efeitos do trabalho estressante são “resolvidos” com o uso de drogas e cresce cada vez mais o consumo de cocaína entre estes trabalhadores. Os acidentes com motoristas não entram nas estatísticas porque os trabalhadores, em sua maioria, não são registrados. A falta de atenção no trânsito, resultante do uso de drogas, é a maior causadora de acidentes com caminhões no Brasil. Dados da Polícia Rodoviária Federal mostram que 54% dos acidentes acontecem durante o dia e 72% em pista reta.


Os canaviais brasileiros são motivo de constantes estudos e ações por parte dos AFTs. Obrigados a conviver com uma jornada estressante, alguns trabalhadores morrem de exaustão. As hipóteses para a ocorrência destes óbitos são sobrecarga térmica/física, desidratação, poluição, AVC, entre outros. Existem também casos de trabalhadores que cometem suicídio em função do estresse a que são submetidos. Para voltar na próxima safra o trabalhador é obrigado a cortar no mínimo 10 toneladas/dia e os empregadores optam por aqueles que se mostram capazes de superar este número.


Para os AFTs fica o papel de buscar os recursos necessários para minimizar os riscos e o desrespeito dos empregadores com o trabalhador brasileiro. Além do excesso de trabalho e de condições desfavoráveis, alguns são vítimas de outro tipo de problema, como aqueles que recebem licença de retorno por parte da Previdência Social e a empresa não os aceita, por considerar que ainda não estão aptos.    

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