Publicada em: 08/08/2020
Por Nilza Murari
O SINAIT informa, com pesar, o falecimento de Dom Pedro Casaldáliga, ocorrido neste sábado, 8 de agosto, às 9h40, em Batatais (SP). Dom Pedro estava enfermo, há muitos anos enfrentando o Mal de Parkinson, foi transferido de São Félix do Araguaia (MT) para Batatais no dia 4 de agosto, mas não resistiu à grave infecção pulmonar.
Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, em Mato Grosso, tinha 92 anos. Natural da Espanha – Catalunha, integrante da Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria – Claretianos, veio para o Brasil em 1968. Foi um dos primeiros a denunciar a existência de trabalho escravo, na década de 1970, desafiando o governo militar. Lançou a semente para que o governo brasileiro fosse denunciado e reconhecesse, em 1995, formalmente, que o trabalho análogo ao escravo existia no País e criasse o Grupo Especial de Fiscalização Móvel, coordenado por Auditores-Fiscais do Trabalho.
Combateu e denunciou não só o trabalho escravo, mas a invasão de terras, os grileiros, a violência contra o homem do campo e os indígenas. Essa militância o converteu em inimigo de poderosos. Sofreu diversas ameaças e por um período foi obrigado a deixar sua casa para proteger sua vida.
Rosa Jorge, vice-presidente do SINAIT, afirma que “ele foi fundamental na luta contra o trabalho escravo, contra a violência praticada contra os trabalhadores rurais. Na denúncia de todas as maldades feitas contra as populações oprimidas. Uma grande perda, mas também um grande exemplo e legado de luta por justiça social”.
Muitos Auditores-Fiscais do Trabalho que integraram equipes do Grupo Móvel tiveram convivência com ele. Sobre ele, diz Cláudia Márcia Ribeiro: “Dom Pedro inspirou muitos de nós. Especialmente os que tiveram a honra de conhecê-lo. Nas nossas idas a São Felix, sempre que podíamos visitá-lo, nos recebia com carinho. Conversava e servia sempre um chazinho de limão com canela. Era uma pessoa diferente, que passava para todos uma leveza de espírito, de alma, que contagiava a todos nós. Quando saíamos da casa de Dom Pedro estávamos revigorados! Dom Pedro era um ser de luz! Contagiava a todos!”.
Valdiney Arruda, do Mato Grosso, afirma que acompanhava Dom Pedro através de seu escritos, mesmo antes de ser Auditor-Fiscal. Em 2002, após uma fiscalização na região de São Félix, fez questão de ir conhecê-lo, acompanhado por outro colega. “Ele nos recebeu como se já nos conhecesse. Me presentou com o livro ‘Descalço sobre a terra vermelha’, que é uma biografia dele e que se tornou meu livro de cabeceira. Na dedicatória está escrito que é preciso ‘ressignificar o que precisa ser ressignificado, mas, sobretudo, seguir sempre a causa’. É a pessoa mais completa que conheci, com consciência sobre a humanidade, simplicidade, natureza. É uma pessoa que deixa sua marca para o mundo. Para mim marcou demais”, diz, comovido.
O SINAIT lamenta, em nome de todos os Auditores-Fiscais do Trabalho, a perda desse homem corajoso e que dedicou sua vida à defesa dos explorados.
Palavras de Dom Pedro Casaldáliga, religioso, poeta e escritor:
"Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e amar! Malditas sejam todas as leis amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois, fazerem a terra escrava e escravos os humanos".
“Por meu povo em luta, vivo.
Por meu povo em marcha, vou.
Tenho fé de guerrilheiro e amor de revolução”.
Livro e filme
O livro “Descalço sobre a terra vermelha”, que conta a história de Dom Pedro, foi escrito pelo italiano Francesc Escribano. Está disponível para compra pela internet em vários sites. O livro foi transformado em filme, em três capítulos, em coprodução da TV Brasil, Raiz Produções e Minoria Absoluta. Veja mais informações aqui.