Trabalho Escravo: SINAIT leva filme Pureza ao Fórum Social Mundial Justiça e Democracia


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
29/04/2022



Obra chama a atenção para o trabalho escravo contemporâneo      


Por Lourdes Marinho 
Edição: Andrea Bochi


O SINAIT levou o problema do trabalho escravo para o primeiro Fórum Social Mundial Justiça e Democracia (FSMJD), que está ocorrendo em Porto Alegre (RS). No início da noite desta quinta-feira, 28 de abril, o Sindicato Nacional promoveu o lançamento do filme Pureza na Casa de Cultura Mário Quintana, onde são realizados parte dos eventos do fórum.


Pureza, personagem interpretada pela atriz Dira Paes e que dá nome ao filme, conta a saga de uma mãe em busca de seu filho escravizado na Amazônia. A sessão foi um sucesso de público e contou com a presença do ex-ministro do Trabalho e Previdência, Miguel Rosseto, de diretores e delegados do SINAIT, e de uma plateia interessada no tema.   


Depois, o público participou ainda de um debate com a Auditora-Fiscal do Trabalho Claudia Marcia, o Auditor-Fiscal do Trabalho Sérgio Carvalho e o produtor do filme Marcus Ligocki. Na conversa, intermediada pelo Auditor-Fiscal do Trabalho Alex Myller, eles ficaram sabendo mais sobre o trabalho escravo contemporâneo no Brasil e sobre a atuação do SINAIT e dos Auditores-Fiscais do Trabalho no combate  deste crime.


Claudia Márcia contou que ela e Sérgio Carvalho estiveram com Pureza Lopes Loyola, a mãe que durante três anos na década de 1990 combateu jagunços e fazendeiros para salvar o filho do trabalho escravo, e que inspirou a história do filme. A Auditora-Fiscal relatou o encontro com Dona Pureza e a imagem que guardou dela.


“Fomos a Bacabal, no interior do Maranhão, para fazer o rastreamento da denúncia recebida do Ministério Público Federal. Encontramos uma mulher destemida, corajosa, alegre e determinada, que nos contou como foi a saga de procurar o Abel. Ela nos mostrou uma bolsa cheia de fitas cassetes com as conversas que tinha com os trabalhadores e “gatos” nas fazendas à procura do filho e muitas fotografias", disse a Auditora-Fiscal. 


Entre tantas curiosidades sobre Dona Pureza contadas para a plateia Claúdia deixou sua impressão. “Este filme é saga de uma mãe que na sua simplicidade, mas com muita coragem, denunciou ao mundo o desaparecimento do seu filho escravizado e também o problema do trabalho escravo”, avaliou.


“Foi preciso um filme contar a dor de uma mãe para nos alertar de uma chaga social que atinge muitos filhos e muitas filhas, e milhões de pessoas no mundo e que muitas vezes a gente esquece”, refrorçou Alex Myller.  


“Para mim, ver a sala de cinema lotada, depois de 27 anos trabalhando como Auditor-Fiscal e fotógrafo é de uma emoção que vocês não têm ideia”, disse Sérgio Carvalho.


O Auditor contou que quando ele e a colega Cláudia estiveram com a Dona Pureza, a fiscalização estava engatinhando no combate ao trabalho escravo. “Fazia apenas um ano da criação do Grupo Móvel, estávamos atrás de indícios, e a Pureza foi a várias fazendas em busca do filho. Estávamos procurando dar uma resposta a uma demanda da sociedade e a gente precisava fazer alguma coisa, e a Dona Pureza foi o caminho”, afirmou Carvalho.


Para o Auditor-Fiscal e fotógrafo, “o filme é uma poesia da força da mulher, lutando contra a barbárie humana. A escravidão é a própria barbárie humana”, reforçou.


Marcus Ligocki agradeceu aos Auditores-Fiscais pelo trabalho que desenvolvem. “Por muito tempo eu acreditei que escolhia os projetos, mas hoje a minha sensação muito mais forte é que os projetos nos escolhem”, disse.


O produtor conheceu o trabalho escravo contemporâneo a partir da história de Dona Pureza e do projeto do filme, depois que o roteirista e pesquisador Paulo Eduardo Barbosa e o fotógrafo Hugo Santarém estiveram no interior do Maranhão. "De tanto ouvir falar, eles fizeram uma pesquisa sobre a história, e fizeram a proposta ao Renato Barbieri, diretor do filme", comentou.      


De acordo com Ligocki, a história o encantou. Segundo ele, Dona Pureza tem uma técnica de pesquisa muito aguçada. Ele também teve acesso ao baú com as fotos feitas por ela, as cartas, matérias de jornais e as fitas cassetes com as conversas que ela tinha com os trabalhadores quando buscava pelo filho.


“Ao procurar pelo filho e se deparar com o problema do trabalho escravo ela saiu do universo particular e passou a agir pela transformação social, pela causa social”, disse Ligocki.


Chacina de Unaí


Durante o debate, a Chacina de Unaí foi lembrada pela diretora do SINAT Rosângela Rassy como outra grande chaga social que, ao contrário da história retratada pelo filme, não teve seu desfecho concluído e que também precisa ser mostrada em filme. Ela informou que o novo julgamento do fazendeiro, Antério Mânica, condenado anteriormente por ser um dos mandantes do assassinato dos três Auditores-Fiscais do Trabalho e do motorista do Ministério do Trabalho está marcado para o dia 24 de maio, em Belo Horizonte (MG).


Conceito de trabalho escravo  


A diretora do SINAIT Vera Jatobá trouxe para o debate a questão do conceito do trabalho escravo, que políticos e empresários querem modificar. Ela destacou a evolução do combate a este crime, por meio de instrumentos eficazes como sua definição no Art. 149 do código penal.   


Também reforçou que é preciso quebrar as amarras que dificultam a fiscalização/constatação do trabalho escravo doméstico.    


Filme


Com duração de 101 minutos, “Pureza” já foi exibido em 34 festivais. Ganhou 26 prêmios nacionais e internacionais em 17 países: Brasil, França, EUA, Guadalupe, Itália, Rússia, China, Alemanha, Panamá, Bolívia, Marrocos, Cuba, Reino Unido, México, Argentina, Colômbia e Líbano. Está sendo lançado em todo o País.


Dirigido por Renato Barbieri e produzido por Marcus Ligocki, o filme conta a história de uma mãe em busca do filho, Abel, desaparecido na Amazônia, vítima do trabalho escravo. É baseado na história real de Pureza Lopes Loyola que, durante três anos, desafiou todos os perigos para encontrar seu filho e se tornou um símbolo do combate ao trabalho escravo.


Ela denunciou o trabalho escravo que acontecia no Norte do país para três presidentes da República e em 1997 recebeu um prêmio de Direitos Humanos em Londres.


Desde 1995, quando o trabalho escravo começou a ser combatido no Brasil, os  Auditores-Fiscais do Trabalho já resgataram 57.644 trabalhadores vítimas deste crime. 

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