DF: Grupo Móvel resgata dois trabalhadores de condição análoga à de escravo na zona rural de São Sebastião


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
07/06/2022



Com informações da Detrae


Auditores-Fiscais do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM), vinculado à Subsecretaria de Inspeção do Trabalho, resgataram dois trabalhadores da derrubada de eucalipto, no dia 30 de maio, encontrados sob condições análogas às de escravidão em uma granja em São Sebastião, na zona rural do Distrito Federal.


De acordo com a fiscalização, uma cocheira servia de alojamento para os trabalhadores, condição que, em conjunto com outras irregularidades, foi considerada como degradante. Um homem foi encontrado no local e outro havia deixado a propriedade dias antes, em função das péssimas condições de trabalho e de acomodação. Ambos trabalhavam na derrubada de eucalipto utilizado como lenha em caldeiras que geram calor para aquecer os animais do aviário que funcionava no local.


Situação degradante de moradia


Durante a operação, foi verificado que as vítimas estavam vivendo nas ruas de Brasília e foram atraídas para o local com a promessa de trabalho e melhoria das condições de vida, mas encontraram no local uma realidade diferente, quando foram alojados em um local destinado ao trato de animais, cheios de fezes e outros dejetos, e tiveram que improvisar, com espumas e pedaços de lenha, camas em cochos.


Havia instalações sanitárias nas proximidades, inclusive com chuveiro quente, mas não eram disponibilizadas aos dois homens. Sem acesso a sanitários e chuveiros, ambos usavam a mata para as necessidades fisiológicas e um balde para o banho, com água fria, mesmo nos dias com temperaturas mais baixas. O local onde se banhavam e dormiam era aberto e os trabalhadores reclamavam também do frio que passavam à noite.


Condições irregulares e inseguras


As condições de trabalho eram irregulares e inseguras, pois a atividade envolvia riscos de queda de toras e cortes com motosserras e nenhum tipo de treinamento ou procedimento de trabalho seguro era disponibilizado. Também não foram oferecidos equipamentos de proteção individual mínimos para o trabalho, como luvas para o carregamento das toras e capacetes para a proteção contra acidentes na derrubada dos eucaliptos.


Foi constatada ainda uma carga excessiva de trabalho, pois nos dias com temperaturas mais baixas, como tem ocorrido recentemente no Distrito Federal, exigem mais produção de lenha para o aquecimento dos viveiros e a manutenção do conforto térmico das aves e do processo de incubação de ovos.


Um dos trabalhadores, que operava motosserra, não suportou as más condições oferecidas e deixou a propriedade a pé, com a roupa do corpo. Ele afirma que caminhou das 17 às 22 horas, depois de ter trabalhado desde as 6 horas da manhã, para encontrar apoio em Brasília, sentindo fortes dores decorrentes de uma hérnia.


Resgate dos trabalhadores


Os dois foram considerados vítimas de submissão ao trabalho análogo ao de escravo e foi realizado o resgate, que é como é chamado o procedimento adotado para a recomposição dos direitos trabalhistas devidos e indenizações aos trabalhadores em situações nas quais o trabalho escravo contemporâneo é constatado.


Após a notificação da Inspeção, o representante do empregador se comprometeu, em audiência, a regularizar a situação dos resgatados e pagar os valores devidos pelo trabalho e encargos correspondentes, mais indenizações por dano moral individual e coletivo. As verbas salariais e rescisórias do período trabalhado recebidas pelos trabalhadores totalizaram R$ 5.700 e cada trabalhador recebeu R$ 10 mil de danos morais negociados pela Defensoria Pública da União e pelo Ministério Público do Trabalho.


Os trabalhadores também terão direito a receber, cada um, três parcelas de seguro-desemprego especial para trabalhadores resgatados de situação análoga a de escravo, no valor de um salário-mínimo (R$ 1.212) cada, a partir de guias entregues pela Auditoria-Fiscal do Trabalho.


Um dos trabalhadores foi acolhido pelo Instituto Berço da Cidadania, integrante da Rede de Proteção Social do Distrito Federal, na modalidade casa de passagem. A equipe de assistentes sociais providenciou roupas, itens de higiene e roupas de cama, além das refeições diárias e escuta qualificada necessária à manutenção de sua saúde emocional.


Além dos Auditores-Fiscais do Trabalho participaram da operação representantes do Ministério Público do Trabalho, da Defensoria Pública da União, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal.

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