O prêmio foi entregue pelo governo dos Estados Unidos da América, em Washington. Pureza é a primeira mulher brasileira a receber a honraria.
Com informações do G1
A maranhense Pureza Lopes Loyola, que inspirou a história do filme 'Pureza', que conta a história de uma mãe que resgatou o filho do trabalho escravo contemporâneo, recebeu, nesta quinta-feira (15), o prêmio internacional Tip Hero (trafic in person), pela sua contribuição na luta contra a escravidão e o tráfico de pessoas.
O prêmio foi entregue pelo governo dos Estados Unidos da América, em Washington. Pureza é a primeira mulher brasileira a receber a honraria.
Dona Pureza, como é conhecida, se tornou referência no Brasil e no mundo por lutar contra a escravidão ao procurar o filho mais novo, Abel, que saiu de casa para trabalhar em um garimpo, em 1996.
A maranhense arrumou um emprego em uma fazenda e testemunhou o tratamento brutal de trabalhadores rurais escravizados. Depois de três anos de muita peregrinação, a mãe conseguiu localizar e resgatar o filho no interior do Pará.
Essa história de luta e coragem foi parar no cinema com direção de Renato Barbieri e com a atriz Dira Paes no papel de Pureza. O filme ‘Pureza’ recebeu quase trinta prêmios em festivais nacionais e internacionais de cinema.
Na próxima segunda-feira (19), o filme Pureza será exibido pela primeira vez na TV aberta, na sessão Tela Quente, da Rede Globo.
O SINAIT promoveu o lançamento do filme no primeiro Fórum Social Mundial Justiça e Democracia (FSMJD), realizado em Porto Alegre (RS), em abril de 2022. Também no 38º Enafit realizado em Recife (PE), em novembro de 2022, quando o diretor do filme, Renato Barbieri destacou o caráter humanizador do trabalho feito por Auditoras e Auditores Fiscais do Trabalho, em debate com os enafitianos. Relembre aqui e aqui.
E, ainda, junto à Confederação Iberoamericana de Inspetores do Trabalho (CIIT) e International Association of Labour Inspection (IALI), na Espanha, por ocasião do encontro de inspetores espanhóis, em outubro de 2022. Veja aqui.
A saga de Pureza
Pureza Lopes Loyola, a inspiração do filme ‘Pureza’, é uma maranhense, nascida na cidade de Presidente Juscelino, município a 85 km de São Luís. Depois ela se mudou para Bacabal, a 240 km da capital, por causa do marido. Mas o casamento chegou ao fim, e dona Pureza ficou com cinco filhos para criar.
Para sobreviver, ela e os filhos trabalhavam em uma olaria e com a venda de tijolos. Evangélica, ela alfabetizou-se aos 40 anos com o objetivo de ler a Bíblia.
Em 1993, a vida de Pureza tomou um rumo inimaginável. Depois de meses sem receber notícias do filho caçula, Antônio Abel, que tinha ido para o Estado do Pará em busca da sorte em um garimpo, Pureza decidiu seguir seu rastro. Ela saiu de casa apenas com a roupa do corpo, uma bolsa, sua Bíblia e uma foto do filho Abel.
Em busca de Abel, Pureza desafiou fazendeiros e jagunços para resgatar o filho da escravidão contemporânea na Amazônia brasileira. Ela se infiltrou em fazendas como cozinheira e descobriu um perverso sistema de aliciamento e escravidão de trabalhadores, que eram ‘contratados’ com falsas promessas, para derrubar grandes extensões de mata nativa a fim de converter a área em pastagem para o gado.
De fazenda em fazenda, Pureza conheceu de perto o drama dos peões e se tornando amiga e confidente de muitos trabalhadores. Ela conheceu o esquema dos empregadores, que confiscavam os documentos de identidade dos empregados e os tornavam totalmente dependentes dos encarregados para obter roupa, comida e produtos básicos. Pureza também ouviu relatos de trabalhadores que poderiam ser mortos se tentassem se rebelar ou fugir.
Após conseguir fugir do cárcere privado, dona Pureza decidiu agir e denunciou a situação dos trabalhadores. Com a ajuda da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pureza entrou em contato com o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho no Maranhão, no Pará e em Brasília. A mãe chegou a escrever cartas para três presidentes da República: Fernando Collor, Itamar Franco (o único que lhe respondeu) e Fernando Henrique Cardoso. Até hoje, ela guarda uma cópia de cada uma dessas cartas.
O reconhecimento da história heroica da luta de Pureza para encontrar Abel fez com que, em 1995, fosse criado o primeiro Grupo Especial Fiscalização Móvel (GEFM) para fazer cumprir a lei e garantir os direitos trabalhistas em todo o território nacional. Do ano de criação até 2021, o GEFM conseguiu libertar mais de 57 mil trabalhadores em condições análogas à escravidão.
Além do grupo, a luta de Pureza também fez com que ela recebesse, em 1997, em Londres, o Prêmio AntiEscravidão da Anti-Slavery International, a mais antiga organização de combate ao trabalho escravo em atividade no mundo.
Atualmente, Abel vive na cidade de Bacabal com dona Pureza e a família.
Veja aqui matéria sobre a premiação, com entrevista de Dona Pureza à Globo News.