A Chacina de Unaí foi tema do programa Linha Direta, da TV Globo, que foi ao ar nesta quinta-feira, 6 de junho. Sob o comando do jornalista Pedro Bial, as histórias dos Auditores-Fiscais do Trabalho Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e do motorista Ailton Pereira de Oliveira foram contadas, a partir das perspectivas de suas famílias e amigos. O trabalho para viabilizar o programa começou em janeiro deste ano, no esforço do SINAIT de marcar os 20 anos do crime que chocou o país.
O primeiro contato com a produção do Linha Direta foi feito em 8 de janeiro, por meio da documentarista e roteirista Camila Appel. Nos meses seguintes, o trabalho da Assessoria de Imprensa do Sindicato, desenvolvido pela Invicta Comunicação em conjunto com a Ascom/SINAIT, seguiu com o aprofundamento da pauta. Todo o repositório de informações construído pelo SINAIT ao longo dessas duas décadas foi fundamental para a narração dos fatos em detalhes.
Para o presidente do SINAIT, Bob Machado, levar o caso da Chacina de Unaí para o programa Linha Direta representa muito para o Sindicato Nacional e para a carreira, pois certamente dará a ampla e detalhada divulgação dos fatos que ocorreram naquele dia fatídico. "Trata-se de um programa especializado em casos como esse e com credibilidade para garantir que a história contada com detalhes, simulações e entrevistas leve à sociedade os reais acontecimentos que até hoje revoltam os Auditores Fiscais do Trabalho", destacou Machado.
Além de pautar o tema, o Sindicato atuou efetivamente na indicação de fontes, curadoria de fotos e de cenas para as simulações, fazendo a intermediação entre a produção e as viúvas, a procuradora da República Mirian Moreira Lima e outros atores fundamentais para narração, tanto do crime quanto do imbróglio judicial promovido pelos mandantes Antério Mânica e Norberto Mânica na busca pela impunidade.
Só em março, o episódio do Linha Direta da Chacina de Unaí foi confirmado. Com a sinalização, foram realizadas as entrevistas com as viúvas dos AFTs Eratóstenes e Nelson, Marinez de Laia e Helba Soares, respectivamente, com a procuradora e com a diretora do SINAIT Rosa Jorge, a quem coube relatar a escala das ameaças, o contexto do crime e as ações adotadas para que a Chacina de Unaí nunca seja esquecida.
“O Antério Mânica ficou muito contrariado porque estava com mais de 180 trabalhadores sem carteira assinada na fazenda dele, inclusive menores de idade entre esses, em condições degradantes de trabalho. Então, ele foi autuado”, contou Rosa Jorge, e seguiu: “Quando o Antério recebeu os autos e viu a assinatura do Eratóstenes, ele ligou para o Auditor-Fiscal cobrando satisfação de o porquê de tantos autos e falou que aquilo seria ruim para a sua imagem, uma vez que o fazendeiro era candidato à prefeitura da cidade de Unaí”. Esse trecho do Linha Direta ilustrou um caso ocorrido quatro anos antes da Chacina, para demonstrar a reincidência dos irmãos Mânica na prática do crime de submissão da pessoa humana à situação análoga à escravidão.
No dia do crime, 28 de janeiro de 2004, Eratóstenes estava na caminhonete do Ministério do Trabalho e Emprego, mas o alvo principal era seu colega Nelson José da Silva, que vinha sofrendo constantes ameaças.
O relato da diretora do SINAIT ainda deu conta da frieza dos mandantes. “Na Subdelegacia Regional de Paracatu tinha uma servidora administrativa e ela ficou assustada porque recebeu uma ligação de Antério Mânica, por volta de nove e pouco da manhã, do dia 28, perguntando se os fiscais estavam mortos. Ela não sabia de nada até então. Meia hora depois, ele voltou a ligar: ‘Olha, realmente, como eu tinha falado antes, eles estão mortos”, contou.
O Linha Direta também ilustrou o tamanho dos desafios dos Auditores-Fiscais do Trabalho no enfrentamento ao trabalho escravo no Brasil. “A OIT calcula que hoje ainda existem 27 milhões de trabalhadores no mundo sob diferentes formas de escravidão. Desses, cerca de 4 milhões nas américas, incluindo o Brasil, onde 64 mil trabalhadores foram encontrados em condições análogas à escravidão, desde 1995”, expôs Pedro Bial.
Sobre a luta das famílias e do SINAIT nessas duas décadas em busca de justiça, Rosa Jorge, visivelmente emocionada, falou da expectativa pela prisão do último foragido, Norberto Mânica. “A gente espera que eles paguem, cumpram suas penas, para que os familiares possam, finalmente, descansar, para que as viúvas possam dizer para os seus filhos: Olha, mataram seu pai, mas eles estão presos, finalmente estão presos e cumprindo as penas.
Nós vamos vigiar isso, para que eles cumpram as penas até o fim”. O trecho encerrou o episódio.
O programa trouxe ampla repercussão na imprensa. Nesta sexta-feira, 7, G1, Estadão, Estado de Minas, Diário do Nordeste, entre diversos outros portais de notícias, publicaram reportagens relembrando o caso.
O Linha Direta da Chacina de Unaí já está disponível na plataforma de streaming GloboPlay para assinantes.