SINAIT discute sustentabilidade e justiça nas relações de trabalho em jornada internacional com professor Gabriel Ferrer


Por: Lourdes Marinho
Edição: Andrea Bochi
30/08/2024



Dirigentes do SINAIT Rosa Maria Campos Jorge, Olga Valle, Marinilda Amorim, Cláudia Márcia, Alex Myller e Renato Bignami participaram da Jornada Internacional da Associação Nacional dos Servidores Públicos da Previdência e da Seguridade Social sobre sustentabilidade, nesta quinta-feira, 29 de agosto, na Faculdade Anasps, em Brasília. A jornada teve como palestrante o professor titular de Direito Administrativo da Universidade de Alicante, na Espanha, Gabriel Real Ferrer, que tratou do tema “Compreender a sustentabilidade. A dimensão Social”.

O estudioso apontou dois grandes desafios que a humanidade precisa enfrentar urgentemente para promover a sustentabilidade: a relação da espécie humana com o meio ambiente e as interações entre as próprias pessoas. O desafio mais complexo e urgente está nas relações interpessoais, que, segundo ele, estão se tornando cada vez mais distantes devido a fatores diversos, como diferenças culturais, preconceitos e a crescente desconexão promovida por uma visão globalizada do mundo. “Precisamos mudar nossas cabeças”, afirmou, referindo-se à necessidade de uma transformação profunda na forma como nos relacionamos para garantir um futuro sustentável.

Segundo Ferrer, embora amplamente discutido, o conceito de sustentabilidade, ainda é mal compreendido pela maioria. Ele alertou que o futuro da civilização está em risco se não forem tomadas medidas urgentes, classificando essas ações como “os grandes desafios do milênio”. Para ele, a ciência e a tecnologia são as ferramentas essenciais para superar esses obstáculos, tanto no aspecto ambiental quanto no econômico.

No que se refere à economia, Ferrer destacou a acumulação de riqueza como o maior entrave para a sustentabilidade. “Gerar e distribuir riqueza é o grande desafio da sustentabilidade econômica”, afirmou. Ele propôs, entre outras iniciativas, a criação de novos impostos como uma solução para promover uma redistribuição mais equitativa para aliviar as desigualdades sociais.

“A solução para a sustentabilidade não virá apenas de discursos, mas da nossa capacidade de nos adaptar e evoluir por meio da ciência, tecnologia e, sobretudo, da mudança cultural”, disse o estudioso.

Ferrer destacou ainda que a assistência à saúde representa o maior avanço da sociedade moderna para a sustentabilidade do planeta. E que o cenário atual é particularmente complexo, e exige novas formas de pensar e agir.

Participação do SINAIT

A diretora do SINAIT, Rosa Maria Campos Jorge, participou da mesa de abertura do evento. Disse que o tema sustentabilidade se reveste de uma importância ímpar para o SINAIT porque como Auditores-Fiscais do Trabalho é preciso ter um olhar para dentro e para fora da categoria. “Temos que compartilhar as nossas ideias e encontrar o melhor caminho para a sociedade, para todos nós. A questão ambiental é uma questão que afeta a todos, queiram ou não queiram. E para nós, Auditores-Fiscais do Trabalho, importa muito a proteção do ambiente laboral”, declarou.

Ela relatou que nas inspeções diárias, os Auditores-Fiscais do Trabalho se deparam com situações muito ruins para os trabalhadores e trabalhadoras do país. “O nível de adoecimento no trabalho é altíssimo. As taxas de acidentes e de mortes no trabalho são vergonhosas, e nós não temos o direito de fechar os olhos para essa dura realidade. Então, discutir, ouvir, vocês aqui nesse evento, para nós do SINAIT é de suma importância”, disse Rosa Jorge, reforçando que cuidar do ambiente de trabalho é muito importante para atualidade e para as gerações futuras.

Justiça nas relações de trabalho

Durante o debate, ocorrido depois da palestra, a representante do SINAIT disse ao professor Ferrer que a luta por um ambiente de trabalho saudável, onde as relações entre as pessoas sejam mais justas, não tem sido tarefa fácil, que é um desafio. E que a Inspeção do Trabalho vive momentos difíceis para poder fazer valer a lei no Brasil.

Rosa Jorge lembrou que, 20 anos atrás, três colegas e um motorista do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) foram assassinados brutalmente numa emboscada na cidade de Unaí, Minas Gerais, por fazendeiros que se acham acima da lei. “Estamos lutando até hoje para que todos os mandantes dessa chacina sejam presos e ainda tem um foragido. Esse crime mostra que lutar para ter um ambiente de trabalho saudável não é tarefa fácil”, desabafou. 

De acordo com Rosa Jorge, as ameaças aos Auditores-Fiscais do Trabalho são frequentes. Ela informou que o SINAIT tem uma linha do tempo com os casos. Disse ainda que lidar com empresário voraz, que não se preocupa com os seus trabalhadores, é uma constante na lida diária. “Nós temos trabalhadores escravizados no Brasil. Nós libertamos, resgatamos a dignidade desses trabalhadores. Retiramos crianças do trabalho, e tentamos fazer cumprir a legislação, que não é uma legislação muito poderosa. E isso é o mínimo! E nem o mínimo os empresários, na sua boa parte, querem cumprir. Mas sei que isso não é uma situação só do Brasil. Eu acredito que o senhor tem exemplos também na Espanha e de outros países com seus conhecimentos”, pontuou.

Rosa perguntou ao professor Ferrer como ele enxerga a questão das relações de trabalho e a luta por justiça no ambiente profissional, considerando que o embate econômico é muito forte em todas as áreas de produção de riqueza.

Ferrer reconheceu que lutar por um ambiente de trabalho mais justo e por relações mais equitativas entre as pessoas não é fácil. É um desafio constante. “Temos que falar sobre isso repetidamente, porque, em algum momento, alguém vai ouvir e replicar essa mensagem. É por isso que gosto de formar formadores”.

Ferrer reforçou que é essencial continuar falando sobre essas questões, pois alguém acabará ouvindo e replicando a mensagem. Ele explicou que, mais importante do que a classe social baseada em renda, é a capacidade de influenciar a sociedade. Para ele, a elite toma decisões, mas profissionais abaixo dela, a quem ele chama de "nebulosa", têm o poder de influenciar essas decisões. Ele enfatizou a responsabilidade de todos em agir de maneira sustentável e reafirmou que, como professor, sua principal ferramenta é a palavra. “Eu entendo que, às vezes, bate o desânimo, mas é preciso continuar. É nossa obrigação. A sociedade espera isso de mim e de você”, finalizou.

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